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sábado, 14 de maio de 2011

IMPRENSA NO PERÍODO JOANINO



O Brasil colônia conheceu, no Rio de Janeiro, no século XVIII, um movimento associativista científico-literário expressivo. Compunham-no intelectuais que apresentavam uma visão pragmática, bem próxima da ilustração, concebendo a utilidade das ciências para o enfrentamento dos problemas e busca das soluções. Para divulgar seu ideário, promoveram os primeiros ensaios da imprensa local, que foram fortemente reprimidos, por meio da supressão e apreensão do material técnico e da queima de oficinas por ordem da Coroa. Na verdade, resguardava-se o monopólio real para que a ideologia da metrópole permanecesse hegemônica na colônia.

Com a transferência da família real, impôs-se, naturalmente, um conjunto de medidas necessárias à acomodação da Corte e à satisfação das novas demandas administrativas. Entre elas, destacou-se a criação da Impressão Régia, através do decreto de 13 de maio de 1808.
A oficina foi constituída, originalmente, por um pesado material tipográfico, destinado à Secretaria de Estrangeiros e da Guerra, recém-chegado da Inglaterra, junto com Antônio de Araújo e Azevedo, titular da mesma Secretaria e futuro conde da Barca, em cuja residência, na Rua do Passeio, foi instalada de início.
A Impressão Régia, única tipografia existente no Rio de Janeiro até a independência, além de imprimir a legislação produzida, fabricar livros em branco para escrituração, encadernar impressos e prover todas as necessidades do ofício de livreiro, também editava livros. Era administrada por uma junta diretora, à qual competia, além de gerenciar, examinar o conteúdo de todos os textos para publicação, vetando temas que atentassem contra a religião, o governo e os costumes da época. Os livros impressos por ordem de sua alteza real eram distribuídos gratuitamente e os que não tinham a chancela da Coroa recorriam à subscrição para enfrentar os custos.
Data de 10 de setembro de 1808 o número um da Gazeta do Rio de Janeiro, jornal redigido por frei Tibúrcio José da Rocha, considerado o primeiro periódico brasileiro. A Gazeta limitava-se a coligir e divulgar as notícias publicadas em outros periódicos, sobretudo ingleses e franceses, enfatizando os principais acontecimentos da guerra peninsular, o estado de saúde dos príncipes europeus, e mantendo o público informado sobre as comemorações e as festas na Corte. Em ocasiões especiais, como o aniversário do monarca, gazetas extraordinárias eram impressas.
A publicação veiculava também alguns documentos oficiais, publicando, principalmente, aqueles emitidos pela Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, à qual pertencia por privilégio. Da mesma forma, sistematizava as notícias das entradas e saídas de embarcações no porto, informando a procedência, o número de dias da viagem e, eventualmente, as mercadorias transportadas.
Vários outros documentos eram repassados ao redator para que se divulgasse a atividade do governo, como as medidas para o desenvolvimento da agricultura, melhoria dos meios de comunicação entre as capitanias, colonização e outros. Na verdade, ainda que implicitamente fossem divulgadas as realizações oficiais, as matérias suscitavam interesse real. Prova disso, é que a Gazeta influenciou na formação de um público leitor, de maneira proporcional às modificações socioeconômicas que a instalação da Corte provocara. Nesse sentido, vale notar que o periódico – que inicialmente saía aos sábados pela manhã – pouco tempo depois de lançado, tornou-se bissemanal, com tiragens às quartas e aos sábados, e chegou a ser publicado três vezes por semana, às terças, quintas e aos sábados.
Já o Correio Braziliense, fundado, dirigido e redigido por Hipólito da Costa, teve seu número inicial lançado em junho de 1808, três meses antes do surgimento da Gazeta. Era impresso em Londres, devido à impossibilidade de se manter um periódico no Brasil imune à censura da época. O Correio, que circulava clandestinamente na Corte, defendia a independência política do Brasil, deixando de circular logo após a proclamação.
Em maio de 1811, a província da Bahia passou também a produzir seu periódico, o Idade D'Ouro do Brazil, impresso na Tipografia de Manoel Antônio da Silva Serva. Tendo apenas quatro páginas, o jornal, publicado em Salvador, circulava às terças e sextas. Sua linha editorial defendia o absolutismo monárquico português. A partir da derrota e expulsão das forças portuguesas do Brasil, a publicação perdeu sua finalidade e, em junho de 1823, saiu de circulação.
Após o início da imprensa periódica no Brasil, cujos jornais caracterizados anteriormente foram os pioneiros, muitos outros títulos começaram a surgir. A imprensa brasileira multiplicou-se, apesar de grande parte das publicações ter apresentado uma circulação efêmera.
Muitos desses periódicos encontram-se preservados no acervo da Biblioteca Nacional, entre os quais se destacam exemplos como O Patriota: Jornal Literário, Político e Mercantil e oReverbero Constitucional Fluminense, além de títulos internacionais que tratavam da conjuntura do império português durante o período joanino, como o Investigador Portuguez em Inglaterra e a Gazeta de Lisboa.
O Patriota, redigido por Manuel Ferreira Araújo Guimarães na capital, foi o primeiro periódico brasileiro a publicar artigos literários, políticos e mercantis. No período joanino, chamado redescobrimento do Brasil, o afluxo de estrangeiros, o conhecimento da natureza, dos vegetais úteis à medicina, dos métodos para o desenvolvimento de novas culturas, entre outros temas, criaram oportunidades para a publicação de textos produzidos em meio ao desenvolvimento associativista científico-literário do século anterior. Das memórias produzidas nessa época, por conta das restrições impostas pela Coroa portuguesa com relação à implantação da imprensa na colônia, apenas umas poucas conseguiram publicação junto à Oficina do Arco do Cego, em Lisboa, como a obra do famoso botânico frei Velloso. Assim, O Patriota trouxe ao império luso-brasileiro uma proposta de cunho iluminista, tendo circulado de fevereiro de 1813 a dezembro de 1814.
Já o Reverbero Constitucional Fluminense, também publicado no Rio de Janeiro, começou a ser editado em setembro de 1821, após o retorno da família real a Portugal, e a suspensão da censura prévia no Brasil. Apesar de ter circulado até outubro de 1822, teve grande importância no processo de independência do Brasil. Seus proprietários, Joaquim Gonçalves Ledo e Januário da Cunha Barbosa, pregavam a independência, porém sem grandes rupturas com Portugal. Quando o fato ocorreu, o jornal parou de ser veiculado.
O Investigador Portuguez em Inglaterra era publicado em Londres, patrocinado pela Coroa portuguesa, ainda no Rio de Janeiro, com a intenção de enfraquecer as ideias propagadas pelo Correio Braziliense. Circulou mensalmente de julho de 1811 a fevereiro de 1819, tendo como um dos seus redatores o embaixador de Portugal em Londres, o médico Bernardo José de Abrantes e Castro.
Por fim, a Gazeta de Lisboa, lançada em 1715, foi o primeiro jornal oficial português. Suspensa pelo marquês de Pombal, em 1762, voltou a circular em 1778, no reinado de D. Maria I. Entre suas diversas edições se destaca o exemplar que noticia a morte de D. João VI, em 10 de março de 1826.
Rafaella Bettamio
  

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